EM BUSCA DE CONHECIMENTO DE
1966 a 1968
Com o certificado de conclusão do
Ginasial, após solenidade sem qualquer presença de meus familiares, meditei
sobre o próximo destino, sem que sobrecarregasse despesas para meus pais.
Procurei contactar com Daniel
Loula, Vasny Vasconcelos, Juarez Loula, Antônio Loula, todos já estudavam em
Brasília, obtendo sinal “verde” na obtenção de uma vaga para estudar no Colégio
Agrícola de Brasília, instituição federal, em regime de internato e que
teríamos de trabalhar na produção de horticultura, criação de bovinos, suínos e
aves, como parte prática de ensino, muito diferente daquilo que sempre
pretendia fazer, não possuía aptidão e ou perfil para tal, mas, as condições
favoráveis, nos conduziram a chegar ao indesejável - CONHECER AS TÉCNICAS AGROPECUÁRIAS.
Procurei arrumar uma “ mala batida”, identificadora de catingueiro
do sertão baiano, munido de algum dinheiro, com muito sacrifício conseguido
pelos meus pais e rumei de ônibus Irecê a Feira de Santana, depois a Belo
Horizonte via Governador Valadares e de lá a Brasília, que ainda tinha que me
deslocar até a Cidade Satélite de Planaltina, onde na zona rural, distante uns
3km onde ficava o Colégio.
O sistema de gestão obedecia aos
rigores de militarismo, tendo à frente um Engenheiro Carioca, Dr. Ercílio
Faria, pai de um aluno Ugo Faria, que coincidentemente estudava na minha sala.
Procurei me aproximar dele e dele às graças do Diretor. Em todas as praticas,
tornou-se parceiro, pois, não tinha habilidades para as atividades.
Conhecer o Diretor e ao
Vice-Diretor, sergipano e de muito boa relação com autoridades do Ministério da
Agricultura, formamos um grupo de baianos, como, Eduardinho, Roberto, estes
bons jogadores de futebol e Clodoaldo de Jacobina, que, pela interferência dos
Dirigentes, conhecemos muitas autoridades do governo, inclusive, do Marechal
Humberto Castelo Branco, pessoa dura, porem, justo e de muito respeito, fator
de ter chegado à Presidência da República e talvez ter gerado ciúmes, sendo
articulado viagem à sua terra, Ceará, que veio a ceifar em acidente a sua vida,
choramos junto a morte de Castelo Branco.
Pelo Colégio, sempre estávamos
envolvidos com o esporte e pelos eventos comemorativos às datas cívicas.
Também conhecia parentes que
moravam no Plano Piloto, como Hermenito Dourado, que chegou a ser Ministro, Dra.
Haydeé Gaunaes Dourado, Chefe de Gabinete do Ministro da Educação Coronel
Jarbas Passarinho, Dr. Crisóstomo Dourado, advogado muito conhecido pelo Brasil
Central e outros parentes, pertencentes à Igreja Presbiteriana, em cujo finais
de semana freqüentava e filava o almoço, retornando ao colégio antes do
anoitecer.
A evolução política é muito
dinâmica, que veio a provocar mudanças da diretoria do colégio, vindo de Minas
Gerais os dirigentes, que transtornou e modificou tudo, só que, para pior, nos
causando uma grande decepção pela lastimável gestão, tendo motivado a eclosão
de um movimento estudantil que tomou grandes dimensões, inclusive, de
estudantes da Universidade de Brasília, de quem partiu a idéia de “ DECLARAÇÃO
DE TERRITÓRIO LIVRE “, o primeiro na história da educação nacional, que
definia:
-
Afastar toda a Diretoria, não permitindo o acesso às
suas instalações;
-
Permitir o acesso de alguns funcionários, devidamente
autorizados pelo Comando, face às atividades essenciais vinculadas;
-
Não permitir a saída de servidores que moravam dentro
das instalações do colégio, salvo, se identificassem motivações devidamente
submetidas ao “aprovo” do Comando;
-
Constituir Comissões de gestão, dentro do alunado;
-
Ocupar a cozinha e dotar de apoio de estudantes aos servidores.
Não poderia de ser, no Staff
Maior do Comando, tinha infiltrado estudantes conhecedores da pesada em
movimentos revolucionários, com invejável coragem, enfrentavam os rigores
militares do regime.
Pelo conhecimento de muitas
autoridades do governo, fui convocado a participar da Comissão de Comunicação,
o leva e traz de informações, além de contatos com parlamentares do Congresso
Nacional, que motivou convites a Deputados Federais a efetuarem uma visita às
instalações do Colégio, para dirimir notícias de que os estudantes estavam
depredando o patrimônio do Colégio e conhecer os verdadeiros motivos que
defendíamos.
A esta visita de Deputados
Federais às instalações, por questões de segurança não foi possível
acompanhá-los, todos sendo recepcionados pelo Staff Maior do Comando e a
presença de nossa Comissão, para reconhece-los na primeira barreira de acesso. A título de
informações, para se chegar às instalações do Colégio, possuía apenas uma
entrada e uma ponte sobre um rio, fator favorável ao aumento de dificuldades
para acesso, face os continuados barramentos criados.
No período de movimento
utilizávamos as trilhas pelo cerrado, andávamos vários quilômetros em trilhas
para livrarmos do assédio da polícia, que tinham infiltrado entre eles
servidores “dedo duro”, que conhecia a cada um
dos estudantes.
Certo dia, numa dessas saídas, ao
chegarmos no asfalto próximo à Cidade Satélite de Sobradinho, mais de 15km
distante de Planaltina, fomos reconhecidos pelo motorista do Diretor Geral, que
estava em trânsito para ir busca-lo, que nem para cumprimentar a gente, deu
ousadia, mesmo se o fizesse estaria comprometendo a gente, pois, poderia
alguém, nos identificar e sermos apanhados pelo polícia, além, de
compromete-los junto aos dirigentes, pelas óbvias atividades vinculadas à sua
função.
Chegamos por volta das 11h ao
Campus da Universidade de Brasília, uma multidão já nos esperava, ansiosos a
receberem notícias do Colégio e o andamento dos próximos passos. Um carro de
som foi ocupado pelo Comando Auxiliar da Pesada, encetando a endurecer o
movimento.
Ao anoitecer, retornamos à
Escola, reunindo no Auditório e transmitirmos todas as notícias e os passos
seguintes a tomarmos.
A polícia notou o aumento de
movimentação e aumentaram os meios psicológicos de pressão e de ameaças de
invadirem a força as instalações do
Colégio.
O terrorismo psicológico surtiu
efeito, lá pelas 4 ou 5h da manhã, isto feito há mais de dois dias, venceu pelo
cansaço, rompeu todas as barreiras, prendeu todos os membros da Comissão de
Segurança e invadiu as ocupações estudantis, prendendo-os todos e conduzidos ao
auditório, sob um forte tratamento a cada um, não tendo mais nenhum contato com
os demais membros do Staff Maior, dando sumiço e só posteriormente sabido,
terem encaminhado a cada responsável ou pai, devidamente conduzido por policial
até seu destino.
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