domingo, 26 de maio de 2013



EM BUSCA DE CONHECIMENTO   DE 1966 a  1968

Com o certificado de conclusão do Ginasial, após solenidade sem qualquer presença de meus familiares, meditei sobre o próximo destino, sem que sobrecarregasse despesas para meus pais.
Procurei contactar com Daniel Loula, Vasny Vasconcelos, Juarez Loula, Antônio Loula, todos já estudavam em Brasília, obtendo sinal “verde” na obtenção de uma vaga para estudar no Colégio Agrícola de Brasília, instituição federal, em regime de internato e que teríamos de trabalhar na produção de horticultura, criação de bovinos, suínos e aves, como parte prática de ensino, muito diferente daquilo que sempre pretendia fazer, não possuía aptidão e ou perfil para tal, mas, as condições favoráveis, nos conduziram a chegar ao indesejável -  CONHECER AS TÉCNICAS AGROPECUÁRIAS.

Procurei arrumar uma  “ mala batida”, identificadora de catingueiro do sertão baiano, munido de algum dinheiro, com muito sacrifício conseguido pelos meus pais e rumei de ônibus Irecê a Feira de Santana, depois a Belo Horizonte via Governador Valadares e de lá a Brasília, que ainda tinha que me deslocar até a Cidade Satélite de Planaltina, onde na zona rural, distante uns 3km onde ficava o Colégio.
O sistema de gestão obedecia aos rigores de militarismo, tendo à frente um Engenheiro Carioca, Dr. Ercílio Faria, pai de um aluno Ugo Faria, que coincidentemente estudava na minha sala. Procurei me aproximar dele e dele às graças do Diretor. Em todas as praticas, tornou-se parceiro, pois, não tinha habilidades para as atividades.
Conhecer o Diretor e ao Vice-Diretor, sergipano e de muito boa relação com autoridades do Ministério da Agricultura, formamos um grupo de baianos, como, Eduardinho, Roberto, estes bons jogadores de futebol e Clodoaldo de Jacobina, que, pela interferência dos Dirigentes, conhecemos muitas autoridades do governo, inclusive, do Marechal Humberto Castelo Branco, pessoa dura, porem, justo e de muito respeito, fator de ter chegado à Presidência da República e talvez ter gerado ciúmes, sendo articulado viagem à sua terra, Ceará, que veio a ceifar em acidente a sua vida, choramos junto a morte de Castelo Branco.
Pelo Colégio, sempre estávamos envolvidos com o esporte e pelos eventos comemorativos às datas cívicas.
Também conhecia parentes que moravam no Plano Piloto, como Hermenito Dourado, que chegou a ser Ministro, Dra. Haydeé Gaunaes Dourado, Chefe de Gabinete do Ministro da Educação Coronel Jarbas Passarinho, Dr. Crisóstomo Dourado, advogado muito conhecido pelo Brasil Central e outros parentes, pertencentes à Igreja Presbiteriana, em cujo finais de semana freqüentava e filava o almoço, retornando ao colégio antes do anoitecer.

A evolução política é muito dinâmica, que veio a provocar mudanças da diretoria do colégio, vindo de Minas Gerais os dirigentes, que transtornou e modificou tudo, só que, para pior, nos causando uma grande decepção pela lastimável gestão, tendo motivado a eclosão de um movimento estudantil que tomou grandes dimensões, inclusive, de estudantes da Universidade de Brasília, de quem partiu a idéia de “ DECLARAÇÃO DE TERRITÓRIO LIVRE “, o primeiro na história da educação nacional, que definia:
-          Afastar toda a Diretoria, não permitindo o acesso às suas instalações;
-          Permitir o acesso de alguns funcionários, devidamente autorizados pelo Comando, face às atividades essenciais vinculadas;
-          Não permitir a saída de servidores que moravam dentro das instalações do colégio, salvo, se identificassem motivações devidamente submetidas ao “aprovo” do Comando;
-          Constituir Comissões de gestão, dentro do alunado;
-          Ocupar a cozinha e dotar de apoio de estudantes aos servidores.


Não poderia de ser, no Staff Maior do Comando, tinha infiltrado estudantes conhecedores da pesada em movimentos revolucionários, com invejável coragem, enfrentavam os rigores militares do regime.
Pelo conhecimento de muitas autoridades do governo, fui convocado a participar da Comissão de Comunicação, o leva e traz de informações, além de contatos com parlamentares do Congresso Nacional, que motivou convites a Deputados Federais a efetuarem uma visita às instalações do Colégio, para dirimir notícias de que os estudantes estavam depredando o patrimônio do Colégio e conhecer os verdadeiros motivos que defendíamos.
A esta visita de Deputados Federais às instalações, por questões de segurança não foi possível acompanhá-los, todos sendo recepcionados pelo Staff Maior do Comando e a presença de nossa Comissão, para reconhece-los na  primeira barreira de acesso. A título de informações, para se chegar às instalações do Colégio, possuía apenas uma entrada e uma ponte sobre um rio, fator favorável ao aumento de dificuldades para acesso, face os continuados barramentos criados.
No período de movimento utilizávamos as trilhas pelo cerrado, andávamos vários quilômetros em trilhas para livrarmos do assédio da polícia, que tinham infiltrado entre eles servidores “dedo duro”, que conhecia a cada um  dos estudantes.
Certo dia, numa dessas saídas, ao chegarmos no asfalto próximo à Cidade Satélite de Sobradinho, mais de 15km distante de Planaltina, fomos reconhecidos pelo motorista do Diretor Geral, que estava em trânsito para ir busca-lo, que nem para cumprimentar a gente, deu ousadia, mesmo se o fizesse estaria comprometendo a gente, pois, poderia alguém, nos identificar e sermos apanhados pelo polícia, além, de compromete-los junto aos dirigentes, pelas óbvias atividades vinculadas à sua função.
Chegamos por volta das 11h ao Campus da Universidade de Brasília, uma multidão já nos esperava, ansiosos a receberem notícias do Colégio e o andamento dos próximos passos. Um carro de som foi ocupado pelo Comando Auxiliar da Pesada, encetando a endurecer o movimento.
Ao anoitecer, retornamos à Escola, reunindo no Auditório e transmitirmos todas as notícias e os passos seguintes a tomarmos.
A polícia notou o aumento de movimentação e aumentaram os meios psicológicos de pressão e de ameaças de invadirem a  força as instalações do Colégio.
O terrorismo psicológico surtiu efeito, lá pelas 4 ou 5h da manhã, isto feito há mais de dois dias, venceu pelo cansaço, rompeu todas as barreiras, prendeu todos os membros da Comissão de Segurança e invadiu as ocupações estudantis, prendendo-os todos e conduzidos ao auditório, sob um forte tratamento a cada um, não tendo mais nenhum contato com os demais membros do Staff Maior, dando sumiço e só posteriormente sabido, terem encaminhado a cada responsável ou pai, devidamente conduzido por policial até seu destino.



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