IGUARIA DE TRADIÇÃO – CUSCUZ (O
PÃO DOURADO )
A simplicidade desta Iguaria é só
aparente, pois, sintetiza eventos históricos da Europa, África e América.
Esta iguaria não se trata de
apenas do café da manhã ( ou da tarde ) mas de eventos importantíssimos da
história da humanidade.
O cuscuz,viajou no espaço e no
tempo e ganhou caras diferentes da original. Essas andanças e transformações
bem podem servir para explicar como o mundo vem se transformando desde antes
das Grandes Navegações até nossos dias. Dos intercâmbios comerciais mouros com
a cultura ibérica à miscigenação de negros, indígenas e brancos experimentada
nas Américas a partir da invasão européia. O historiador e antropólogo Luís da
Câmara Cascudo, no seu clássico História da Alimentação no Brasil, chama o
cuscua, kuz-kuz ou alcuzcus, de prato nacional dos mouros, do Egito ao
Marrocos, onde era feito com trigo, arroz ou sorgo. “ Parece certo que os
berberes foram os criadores do cuscuz, como crê Karl Lokotsch, e o trouxeram
para África Ocidental, Central, Atlântica, quando desceram nas campanhas
invasoras pelo Níger e Congo, há doze séculos”. O português conheceu e usou do
cuscuz, tendo-o dos berberes, de tão velho e largo contato histórico. Era prato
popular em Portugal, quando o Brasil apareceu na rota da Índia. (...) Na
pragmática do rei dom Sebastião, em 28 de abril de 1570, reprimindo excesso de
gastos nas refeições fidalgas e plebéias, dispõe ‘ que pessoa alguma não possa
comer à sua mesa mais que um assado e um cozido, e em picado, ou desfeito, ou
arroz, ou cuscuz’”..
No Brasil, o cuscuz é conhecido
em sua versão feita com massa de milho, que já era plantado pelos índios nas
terras de cá antes dos portugueses e dos negros trazerem a receita e adapta-la
por conta da ausência de trigo ou do sorgo. O cuscuz pode ser comido às fatias,
puro, doce ou salgado, regado com leite de vaca ou leite de coco, com manteiga
ou recheado com banana, rapadura, queijo ou o que mais der na telha do criativo
povo nordestino.
Além dessa versão comum, Câmara
Cascudo registra ainda outras matérias-primas (“Fazem-no também de mandioca,
arroz, macaxeira(aipim), inhame”), e outros feitios para outros brasileiros. No
sul há o cuscuz paulista e também o mineiro, com recheio de peixe esfiado,
crustáceos, molho espesso de tomates, constituindo refeição substancial.
MARROQUINO
O cuscuz pode até ser um prato
que guarda seus ares de tradição, mas não se ressente frente aos ventos da
mudança. Ele vai para onde o levam e se molda ao gosto do lugar. Foi assim que,
em uma história bem mais recente, ele viajou dos Estados Unidos para a Bahia,
na forma da receita de cuscuz marroquino com camarão do restaurante Farid, no
Salvador Shopping.
O prato foi, digamos, inspirado
em um outro, do restaurante Café Gitane, localizado na região do Soho, em Nova
York, e aqui foi constituído na base de sêmola de trigo e do camarão, ainda
leva cenoura, vagem, cebola, manteiga clarificada, pimenta Síria e outros
ingredientes não revelados, por ser segredo do restaurante.
O prato é servido com uma
generosa camada de homus em seu topo e de promover uma combinação de sabores
suaves e ácidos, que promove uma interessante relação entre a solidez dos
crustáceos, o pastoso do homus e o esfarelado do cuscuz.
O NORDESTINO
Para fazer valer a tradição do
Nordeste, sobretudo a do interior baiano,, a receita é muito simples, em
especial para o com tapioca, basta pôr a massa em uma tijela, forma ou bacia,
regar com bastante água ou leite de coco
e esperar inchar, colocar a tapioca, sal ao gosto, recheio do que desejar.
Nos limites da miscigenação, o
proprietário do Bistrô e Café Rancho do Cuscuz, localizado na Rua Edistio
Ponde, 353, Costa Azul, Salvador-BA, que se caracteriza em servir iguarias,
inventou o CUSCUJÉ, que acrescenta ao prato, o camarão seco, vatapá e salada.
A casa é mesmo muito sugestivo,
conhecido como, “baianocêntrico”, pois, oferece ainda mais o Hot Dog de Cuscuz,
recheado com salsicha ao molho de tomate e servido acompanhado da batata palha.
Os Dourado, adotam o cuscuz como
o seu tradicional pão, e se utilizam de muitos utensílios domésticos para sua
confecção, que dão forma muito engraçadas, como, peito de donzela,
“pitufu”(peito avantajado), cabeça de cearense, funil, e outros.
A criatividade, a inovação do ser humana, tem apresentado ao Brasil e Mundo, diversas outras modalidades desta iguaria, porém, selecionei aquelas que mais se identificam com a família DOURADO, da qual me orgulha integrar.
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